I. Deméteres Brasileiras

Na mitologia grega, Deméter é a deusa que representa a fertilidade da terra e a maternidade. Mãe de Perséfone, a divindade viu a filha ser raptada por Hades, rei do submundo, que só permitiu o reencontro das duas depois de sua amada comer uma romã e parte dela passar a pertencer ao mundo dos mortos. Após acordo intermediado pelo supremo Zeus, Perséfone passa metade do ano com a mãe e a outra parte com o marido.

No Brasil, domésticas e diaristas sacrificam o tempo com os filhos para obterem recursos para criá-los. Durante a pandemia, o sacrifício é acompanhado pelo medo de perder renda. Em abril, 39% dos patrões dispensaram o serviço destas profissionais, sem pagamento. O Instituto Locomotiva de Pesquisas também constatou que 23% dos empregadores de diaristas e 39% dos contratantes de mensalistas confirmaram que suas funcionárias trabalham normalmente na quarentena.

Essas questões estão presentes no enredo de vida de Isabela, Elaine e Francisca. Três mulheres que se esforçam para oferecer o melhor aos filhos, apesar do medo de serem infectadas pela covid-19. E assim como Deméter, transformam o tempo que passam com as crianças em primavera e verão.

Deus, cuide de mim. Sou eu que estou saindo!

A imagem capturou grande parte da cozinha da casa. Isabela está de lado, sentada em uma cadeira branca bem ao meio da foto. Ela usa um vestido longo estampado e está com o cabelo de lado. À sua esquerda tem a pia de louças e acima, a janela do local. Do lado direito tem um balcão com o microondas e outros acessórios usados na cozinha. Acima desse armário, tem um armário branco pregado na parede, e mais à frente e distante, uma gaiola de passarinhos.
Isabela Dantas Barbosa teme que o seu trabalho durante a pandemia afete as pessoas ao seu redor

É em uma pequena casa no segundo andar, ao lado do Rodoanel de São Paulo, que Isabela Dantas Barbosa, 41 anos, divide seus três cômodos com sua filha Lorena, de 2 anos, e, às vezes, com o neto quando o filho a vem visitar. Conciliar a rotina de trabalhadora doméstica e mãe é uma realidade que muitas mulheres enfrentam para conseguir alimentar e manter seus filhos.

- Não é fácil, mas é por eles - afirma.

Aos 15 anos, Isabela saiu da Paraíba para São Paulo sem conhecer nada do mundo. Deixou a casa de seus avós para morar com seu tio e buscar oportunidades melhores. Mas pela falta de estudos e necessidades financeiras, o único caminho que encontrou foi trabalhar como diarista. Vinte e seis anos depois, ela segue faxinando, sem nunca ter terminado os estudos, mas com a esperança de um dia ainda se formar professora.

Agora mãe, Isabela se vê tendo que deixar a filha sob cuidados de outra pessoa. A rotina, mesmo durante a pandemia, sempre começa às 4h da manhã quando acorda, prepara as coisas do trabalho e cuidadosamente arruma Lorena para deixá-la na vizinha, que mora a duas casas.

As luzes dos postes ainda estão acesas, é tão cedo e ao mesmo tempo tão tarde para pegar a condução até o trabalho. A cidade não para e os transportes públicos permanecem cheios. Uma das suas maiores preocupações ao sair para o emprego é se contaminar e transmitir o vírus para aqueles que ama.

A foto mostra a entrada de dois cômodos da casa, um do lado esquerdo e outro do direito. Um pouco mais à frente da entrada esquerda, tem um carrinho infantil usado por crianças, que montam nele e pedalam para andar. Ele é rosa com lilás e tem as rodas da cor roxa.
O velocípede de Lorena fica guardado quando ela vai para a casa da cuidadora

Todo esse esforço a faz lembrar do tempo em que estava grávida. O medo de ser demitida e ficar desamparada a acompanhou até os sete meses de gestação e, quando finalmente contou, foi dispensada. Relembrar os dias em que teve que trabalhar com produtos químicos fortes, subir escadas e pegar peso, faz com que Isabela chore. Ela tenta disfarçar, mas o desespero que sentiu naquela época ainda é evidente em cada palavra que emite.

A ausência de direitos básicos trabalhistas, como férias remuneradas, décimo terceiro salário, licença-maternidade, previstos pela CLT (Consolidação das Leis do Trabalho), resulta da subvalorização que a profissão enfrenta. E, em meio à crise sanitária, o reconhecimento e a concessão dos direitos ficam ainda mais difíceis.

Dados da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua (PNAD), de 2020, revelam que aproximadamente 70% das funcionárias não possuem carteira assinada, como é o caso de Isabela. Paradoxalmente, devido ao tempo que exercem o trabalho em um determinado local, os patrões projetam a algumas trabalhadoras a imagem distorcida de uma relação amigável entre contratante e contratada. A diarista diz que tal relação não existe, que a funcionária só possui valor enquanto pode desempenhar as tarefas.

Em meio a uma profissão desvalorizada e à pandemia do novo coronavírus, Isabela se agarra em suas orações e pede a Deus que "a proteja e proteja aqueles que ama". Para amenizar os pensamentos, ela escreve sobre o cotidiano e sua família em um caderno que carrega consigo pelos transportes públicos. "À moda antiga", ela afirma sobre seu passatempo. A escrita, amor e religião são as âncoras que atenuam as dores que sua profissão traz.

‍Quando a mãe vai ter folga?

Na imagem aparecem as duas crianças e a Elaine, os três estão abraçados e sorridentes. Eles olham diretamente para a câmera e a imagem capturou do ombro para cima. Ana Clara está à esquerda, Rafael ao meio, e Elaine na ponta da direita.
Elaine Cristina junto aos filhos, Ana Clara e Rafael, em um momento de folga (Foto: arquivo pessoal)

Acordar de manhã, se arrumar e seguir para o trabalho. Essa era a rotina de Elaine Cristina até março deste ano. Diarista e mãe de quatro filhos, ela conta que colocar a máscara e conferir o estoque de álcool em gel na bolsa também passou a fazer parte do seu cotidiano.

Todos os dias ela sai do bairro Jardim Nova Conquista, zona leste de São Paulo, deixando Rafael, de 5 anos, Ana Clara, de 9, e Eduarda, de 17, aos cuidados da outra filha, Beatriz, de 19. Saudades é o sentimento que ela carrega enquanto enfrenta o trânsito caótico da capital. Porém, a necessidade de suprir a renda familiar e possibilitar o melhor para seus filhos é o que a move até o trabalho.

- Eu achava bonito chegar na casa toda bagunçada e deixar ela organizada quando comecei a trabalhar com faxina no final da adolescência - conta.

Mas logo esse encanto por organização se transformou meramente em necessidade. Segundo dados do IBGE, em 2020, calcula-se que 6 milhões de pessoas trabalham como empregados domésticos e mais de 90% são mulheres.

No começo da crise sanitária, Elaine passou por um "sufoco". Ela foi dispensada e ficou até junho sem trabalhar. A cada dia suas preocupações aumentavam. Mesmo com o marido, Nikolas Sabino, trabalhando como motorista de aplicativo, a renda não era suficiente.

A filha mais velha cuida dos irmãos menores e da própria filha enquanto os pais estão trabalhando, como forma de ajudar em casa. 

- Eles me perguntavam quando a mãe ia ter folga, que dia ela ia ficar com eles. Eles sentem muito a ausência dela - conta Beatriz.

Na imagem, Elaine aparece com sua neta e sua filha mais velha. Ela usa uma jaqueta jeans azul, uma blusa branca por baixo e tem um meio sorriso no rosto. Os olhos aparentam cansaço. Seu cabelo é preto e está amarrado para trás, enquanto ela segura a neta recém nascida no colo. A bebê veste um macacão branco com rosa e da mesma cor, uma tiara com um lacinho na cabeça. A bebê está acordada e com a boca entreaberta. À esquerda de Elaine, está sua filha, Beatriz. Ela tem o cabelo preto, que está solto e é liso, e veste uma blusa de manga comprida rosa.
Elaine com a neta Lavínia e a filha Beatriz que cuida dos mais novos enquanto a mãe trabalha (Foto: arquivo pessoal)

A faxineira revela que, mesmo sendo desgastante e até humilhante ter sido insultada e inferiorizada muitas vezes, acaba preferindo o trabalho diário por "ganhar mais do que em uma firma".

- A gente põe o orgulho de lado porque tem os filhos em casa que dependem disso. Eu absorvo as coisas negativas, embora tente deixar ‘entrar de um lado e sair pelo outro’ pra não levar pra casa. Às vezes a gente chega em casa até ‘pesada’ pela sujeira que a gente tira da casa da pessoa e pela energia que ela deixa - finaliza. 

Atenda a porta só se for a vizinha

Na imagem aparecem mãe e filha, do ombro para cima. A filha Jaqueline, está à esquerda e tem o cabelo da cor preta, que está preso para trás. Ela está sorridente e usa uma camiseta azul. Na direita está a mãe, Francisca, ela também está de cabelo preso e usa um óculos de grau preto. Francisca veste uma blusa verde água, e está com a mão esquerda no ombro da filha.
Francisca Maria reserva o período da tarde para dedicar atenção aos estudos da filha Jaqueline

Francisca Maria Santos da Silva, 58 anos, é alagoana, de Palmeiras dos Índios. Há 25 anos, mudou-se para Guarulhos, região metropolitana de São Paulo. A dificuldade de emprego na cidade natal motivou sua mudança para o sudeste do país. No entanto, Dona Fran, como ficou conhecida, se estabeleceu com seus filhos e marido em uma das favelas localizadas na região sudoeste da cidade.

Francisca trabalhou inicialmente em depósitos de reciclagem. Para cuidar de Jaqueline Santos da Silva, sua filha de 28 anos, decidiu abandonar o ofício para atuar como diarista nas imediações da comunidade.

Jaque, como é chamada pela mãe, nasceu com deficiência intelectual moderada, transtorno que atinge o sistema cognitivo e afeta as habilidades comportamentais da criança. A realidade da família se moldou à rotina de esportes e estudos da filha.

Ao ser decretada a quarentena, Francisca preocupou-se especialmente com a saúde de Jaqueline, que também apresenta quadro de pressão alta e, consequentemente, está inserida nos grupos de risco à Covid-19. Atualmente, mãe e filha se reúnem à tarde para as atividades e aulas on-line da jovem.

A jornada de trabalho da doméstica foi diminuindo ao longo dos anos. Atualmente, ela é diarista em uma única residência. Por isso, não viu grandes mudanças na rotina, mesmo após o decreto da quarentena.

Começando o serviço às 9h e terminando-o às 15h, Francisca atua sozinha em relação aos cuidados da casa onde residem um casal de idosos e um filho. Os resultados do trabalho são, por consequência, enfrentados também de maneira solitária. Após uma queda na residência, a empregada percebeu que levantaria com suas forças apenas, acompanhada da voz da patroa ao fundo, justificando a inabilidade no préstimo de socorro às dores da idade avançada.

Os patrões, também considerados grupo de risco para a Covid-19, não abrem mão dos serviços da alagoana. Mesmo assim, o casal não ofertou outros benefícios ou preocupações além do álcool em gel. Ao ser questionada se houve uma proposta de licença remunerada para a proteção de todos, Francisca diz que nada foi mencionado. O trabalho permanece quinzenal.

A renda da família de dona Francisca, moradora de uma das unidades habitacionais da Companhia de Desenvolvimento Habitacional e Urbano do Estado de São Paulo (CDHU), é complementada pelo Benefício de Prestação Continuada, o BPC. O recurso é concedido com base na Lei Orgânica da Assistência Social (Nº 8.742), proposta em 7 de dezembro de 1993 na Constituição brasileira.

Francisca convive com a atenção dividida entre o trabalho como doméstica e o medo ao deixar Jaqueline sozinha. Como mãe, a preocupação se deve ao local onde mora, considerando-o inseguro para a filha. Uma de suas angústias é o consumo de drogas na região.

- Tenho medo que alguém entre aqui e ela esteja sozinha. Por isso, falo para ela atender apenas quando for a vizinha - diz apontando para o apartamento ao lado.

Na imagem aparece uma bíblia rosa que está fechada. Ela aparece na sala da casa acima de um móvel. A bíblia está na diagonal e está escrito na capa “Bíblia à estudo diário da mulher”
Católica, Francisca mantém um exemplar da Bíblia em lugar de destaque na sala de casa

O maior sonho da diarista é mudar para uma casa. O medo em relação à propagação do vírus no condomínio aumenta a tensão. Os eventos no conjunto habitacional ocorrem. Na aglomeração, poucas pessoas usam máscaras.

- De sexta para domingo, ninguém dorme com as festas - diz.

O contato com o universo fora de seu apartamento é feito apenas por necessidade. A pouca locomoção de Francisca se deve aos sintomas da fibromialgia, descoberta há cinco anos. O cenário de pandemia revelou surpresas inclusive à continuação do tratamento da síndrome que ocasiona dores, especialmente, nos tendões e nas articulações.

O remédio é composto por difosfato de cloroquina, um dos derivados da quinina utilizados para doenças reumáticas. Anteriormente, a composição do remédio tinha como base a hidroxicloroquina. Devido ao uso do grupo antimalárico para tratamento da Covid-19, incentivado pelo governo federal, sem evidências científicas de eficácia, os fármacos entraram em desabastecimento no mês de maio.

Na imagem aparece a embalagem branca de um remédio manipulado, com foco no descritivo em que aparece o nome de Francisca e demais informações sobre o medicamento. Está prescrito o nome do remédio que é “Difosf Cloroquina”. Abaixo, tem uma faixa amarela que diz “1 dose = 3 cápsulas”.
O remédio para fibromialgia de Francisca teve sua composição alterada devido à falta de hidroxicloroquina

Segundo pesquisa online realizada pela Biored Brasil - rede de pacientes em prol do diálogo sobre medicamentos biotecnológicos - em parceria com a Organização Não Governamental Grupo de Apoio ao Paciente Reumático de Ribeirão Preto (ONG Grupar-RP), 84% dos pacientes com problemas reumáticos, que responderam ao formulário entre os meses de maio e junho, tiveram dificuldades de encontrar o medicamento. Dona Francisca foi avisada pela médica sobre a alteração da composição do remédio.

- A doutora disse que estava em falta, mas que não ia mudar o tratamento.

Um exemplar da Bíblia está em lugar de destaque em um móvel da sala de pouco mais de 10 metros quadrados. Católica, deixou de ir à missa quando entrou em vigor o isolamento social. Sua crença, no entanto, se mantém, projetada na esperança que os males terrenos estejam distantes do seu lar.

Queremos respeito e ser pagas pelo trabalho

Nesta fotografia, estão 11 mulheres. Todas usam máscara de proteção. Há também um bebê no colo de uma das mulheres.
A chapa "Resistência e Luta" eleita para a diretoria 2021-2023 do Sindicato (Foto: divulgação)

Superar as dificuldades que as domésticas e diaristas enfrentam é um desafio para os sindicatos. Em São Paulo, o Sindicato dos Trabalhadores Domésticos do Município de SP atende as profissionais lesadas em uma pequena casa com paredes amarelas desgastadas e móveis antigos, na rua da Margarida. O ambiente transborda indignação e clamor por justiça.

Entre as responsáveis pelo atendimento está a coordenadora do setor de domésticas imigrantes, a boliviana Diana Solís. Ela relata em seu idioma natal as dificuldades que a classe tem passado durante o período de pandemia.

Suas mãos tocam a mesa, que está ao seu lado direito, sempre que a indignação altera a sua voz. Diana sente cada história como se fosse a dela porque um dia também precisou de ajuda.

- Elas ainda estão passando muita necessidade. Algumas não voltaram a trabalhar. Outras estão voltando aos poucos, mas não estão ganhando o que recebiam antes porque as patroas estão descontando o tempo que elas ficaram em casa - conta.

Não bastasse as dificuldades já existentes, no dia 1° de abril de 2020, entrou em vigor a Medida Provisória 936 do Programa Emergencial de Manutenção do Emprego e da Renda, que autoriza os empregadores, incluindo os domésticos, a suspender o contrato de trabalho e reduzir proporcionalmente a jornada e o salário.

Zenilda Ruiz, responsável pelo setor jurídico, está no sindicato há mais de 30 anos. Em sua fala repleta de revolta, explica que a norma é prejudicial às trabalhadoras.

- Foi um auxílio emergencial para os patrões, que podem suspender o contrato da trabalhadora. Além disso, ela ainda recebe menos no seguro desemprego do que qualquer outro trabalhador.

A assistente jurídica conta que muitas mantiveram o horário de trabalho, mas o salário foi reduzido.

- A trabalhadora doméstica continuou sendo lesada. E, pra piorar, as diaristas, que não tem vínculo, não são registradas, foram dispensadas e estão passando fome!

A profissional acrescenta que muitas trabalhadoras são chefes de família e sustentam a casa. Por isso, uma das ações do sindicato foi arrecadar e distribuir cestas básicas na tentativa de minimizar o problema da falta de recursos para compra de alimentos.

Para Zenilda, as histórias dessas trabalhadoras, muitas violando os direitos trabalhistas e até os direitos humanos, dariam para escrever um livro. Em tempos de pandemia, a quarentena no sindicato teve início no dia 18 de março, mas logo após o mês de abril, devido à alta demanda dessas mulheres por auxílio, as sindicalistas começaram o atendimento presencial agendado.

- Tivemos que vir ao socorro delas. Não dava pra ficar em casa com tudo isso acontecendo - explica.  

Os casos envolvendo trabalhadoras imigrantes é ainda mais preocupante. Muitas sustentam as famílias fora do Brasil e passam necessidades que os familiares nem imaginam. Há situações em que não são pagas de forma correta por serem estrangeiras. A sindicalista ressalta que as leis trabalhistas brasileiras servem para todos, independente do local de origem das empregadas.

Por fim, Zenilda alerta que é preciso dar um basta na ideia de que o patrão pode lesar as domésticas.

- Na pandemia, eles continuam tirando os direitos delas, só que agora dentro da lei. Nós não temos problemas em limpar o banheiro do patrão, mas nós queremos respeito e ser pagas por isso!

CRÉDITOS

Ana Cristina
Repórter
Deus, cuide de mim. Sou eu que estou saindo! / Quando a mãe vai ter folga?
Caroline Vale
Editora de imagens
Gabriela Santos
Redatora
Jéssica Pretto
Repórter e redatora
Queremos respeito e ser pagas pelo trabalho
José Bruno Bratti
Editor de vídeo
Deus, cuide de mim. Sou eu que estou saindo!
Rafael de Toledo
Repórter e fotógrafo
Deus, cuide de mim. Sou eu que estou saindo! / Atenda a porta só se for a vizinha
Vitória de Góes
Redatora
Publicado em: 07 de dezembro de 2020.