A pandemia forçou uma nova forma de convivência, sem abraços, sem apertos de mão e sem beijos. Ao mesmo tempo, mostrou que não são computadores ou celulares que substituirão o afeto e a emoção transmitidos pelo contato físico. A covid-19 nos levou a adotar atitudes radicais, como o isolamento social, mas algumas pessoas se mantiveram expostas para garantir o sustento de suas famílias. Graças a elas, atividades essenciais foram mantidas. Na história pós-pandemia será que esses trabalhadores serão lembrados como heróis ou comparados a deuses?
Os sepultadores, dia após dia, encaram a realidade com força suficiente para não se render à tristeza. Eles são como o barqueiro Caronte, aquele que guia os mortos para o descanso final.
As empregadas domésticas deixam seus filhos aos cuidados de outras pessoas e sofrem com o afastamento. Apesar de a distância entre as realidades de seres mitológicos e humanos ser imensa, elas e Deméter, deusa da gestação e da agricultura, compartilham do mesmo sentimento: a saudade.
Já os entregadores viram a carga de trabalho aumentar. A demanda gerou exploração e mais riscos. Carregando pesados fardos às costas, como o titã Atlas, condenado a sustentar os céus nos ombros, não tiveram direitos trabalhistas reconhecidos, nem remuneração adequada.
As histórias desses trabalhadores fazem parte das Crônicas do Contato, reportagens produzidas no contexto do 12º Prêmio Jovem Jornalista Fernando Pacheco Jordão, promovido pelo Instituto Vladimir Herzog. As matérias retratam a realidade de personagens de quatro estados – São Paulo, Espírito Santo, Paraíba e Pernambuco (ver o mapa abaixo) – que não tiveram opção de se distanciar socialmente, apesar de um vírus ter alterado a forma de viver no mundo inteiro.